Valdir Aguilera
 Físico e pesquisador

 

 

Exemplos de inferências talvez legítimas,
fundadas na filosofia racionalista cristã

Francisco da Cruz Évora

Introdução A ideia de uma dimensão profunda [extremo sequencial antecedente] constitui um conhecimento perene: o mundo que observamos não é a realidade última, mas a manifestação [extremo sequencial consequente] de uma realidade que jaz para lá da nossa observação. [1]

Para aquele que ainda não expandiu a sua consciência o suficiente para representar, no plano mental, (A) realidade que se manifesta, distintamente da (B) respectiva manifestação, esta funcionará como se fosse um véu que lhe tira a visão da realidade criadora. Todavia, a seu tempo, o investigador há de levantar esse véu e “ver”, com os olhos do espírito, a verdadeira realidade, que só é a realidade criadora.

Fica o leitor avisado de que, não obstante o título desta pesquisa, ela absorve alguns contributos de estudiosos de outros círculos filosóficos, mas que nalgum particular alinham com a filosofia racionalista cristã.

“Nós doutrinamos para todos e é preciso, sim, que estudem nossas orientações, reflitam, indo fundo nas pesquisas. Não as aceitem por aceitar, só porque o Astral Superior disse. (…) queremos que os militantes busquem no seu âmago a verdade espiritual que está lá, aprimorando-a em cada leitura para chegarem a uma conclusão acertada e realista” [2]

1. O universo fundamental sempre existiu e é indestrutível; o universo fenoménico é o extremo sequencial consequente do universo fundamental, no tempo sucessivo

Admitindo que o universo fenomênico - feito de “fenômenos”, quer dizer, de tudo aquilo que é manifestado e pode ser objecto de prospecção pelo espírito - não existe por si só, mas tem na sua raiz dois únicos componentes que são ilimitáveis no tempo e no espaço, aqui designados por Força do Universo e Matéria do Universo, ou, se se quiser, “Força e Matéria”, então, podemos inferir com segurança que o universo fenoménico deriva, ou decorre, do universo fundamental, ou radical, entendido como uma composição dessas duas únicas bases radicais.

Ou seja, o universo fundamental é que cria, gera ou produz o universo fenomênico e, por isso, na ordem lógica das coisas, o universo fundamental ocupa o primeiro lugar; depois, e só depois, é que tem lugar lógico o universo fenomênico - efeito da força-ação permanente da Força do Universo sobre a Matéria do Universo, por toda a parte, sendo quem tudo rege seguindo forças-lei evolutivas.

Será possível à ciência humana, algum dia, chegar a fazer a datação do começo absoluto do universo fenoménico, com suas mudanças permanentes? Parece óbvio que essa proeza não está ao alcance do conhecimento humano.

“O firmamento, sujeito, como está, ao movimento constante dos corpos nele expostos e às modificações de ordem evolutiva, varia de forma e de aspecto em cada segundo que passa, não obstante tais variações só poderem ser apreciadas em mapas celestes, no curso de milénios.” [3] 2. Quer no universo fundamental como no fenoménico, é dentro desses dois componentes essenciais (Força e Matéria) que se explicam as causas e os efeitos em que se traduz concretamente a existência dinâmica do Universo

“A pessoa que quiser demorar-se na investigação de tão importante tema encontrará campo aberto para desdobrar o raciocínio e fortalecer suas convicções, e concluir que, no universo fenomênico em que vivemos, Força e Matéria estão na raiz de todos os fatos existenciais.”
[4]

“Para o Princípio Inteligente [Força do Universo] todas as grandezas se confundem, porque está em toda parte e em qualquer tempo [tempo - enquanto sucessão abstracta, de origem indestrutível].” [5]

Força em espírito e verdade, [é] essência que no Universo existe a organizar, a incitar e a movimentar tudo, inclusive os componentes dos reinos da Natureza.

(…) O Grande Foco ou a Inteligência Universal [na sua primeira acepção, equivalente ao termo Força do Universo], está em toda parte, porque o seu todo [Força do Universo e sua autovibração una, integral e total] anima, movimenta e desenvolve os seres e as coisas, e é obreiro e artífice de todos os mundos [extremo sequencial consequente] que se movimentam no Espaço.

[Maior é o Poder da Força do Universo!] Está em toda parte, porque sem a Força o que seriam a Terra, os mundos, o espaço e tudo, desde os minúsculos insetos, aos mais alentados habitantes da floresta, desde as mais pequeninas, às mais grandiosas coisas?

O Grande Foco está em toda parte, porque tudo o que vive, contém uma parcela [parcela-Força], embora pequena, de Força. Sendo, pois, a Força a vida de todos os seres, de todos os corpos, atua em todas as coisas e manifesta-se em todos os reinos da Natureza [extremo sequencial consequente].

(…) No dia em que a humanidade [sobretudo a mocidade!] compreender que além da matéria há a Força que a locomove, que faz dela o que quer, Força que é Inteligência, comum a todos os seres, compreenderá então que a única característica que os diferencia [aos seres humanos], é a posse dum espírito mais ou menos evoluído.” [6]

Assim sendo, podemos inferir que no Universo a Força (imaterial, inteligente, ativa e transformadora) é O VALOR MAIOR, e a matéria o valor menor. Esta é apenas o recurso que a Força do Universo organiza, incita e movimenta, para prosseguir e conseguir fins evolutivos, de tudo e de todos.

Todavia, os estudiosos da filosofia racionalista cristã são confrontados com a ideia de um “Grande Foco Ponto”, como que um Ponto Ideal no âmago da Força do Universo, para onde caminham as parcelas-Força em evolução, de forma lenta e gradativa, mas eternamente. Lamentavelmente, essa ideia não consta claramente dos livros essenciais do Racionalismo Cristão.

3. Na composição do ser humano, existe uma individualidade responsável e indestrutível (o espírito), que, enquanto parcela-Força, sempre existiu; cada comportamento feito e auto-experimentado, em que intervêm o corpo fluídico e o corpo físico, revela, ao estudioso, aquela dimensão espiritual de todo e qualquer ser humano

“Quando falamos em espírito, nem todas as pessoas sabem ou sentem o que quer dizer essa vibração invisível, por ser ele [espírito] imaterial …”. [7] - É evidente que o espírito está aqui considerado como “uma vibração” e, simultaneamente, como “uma individualidade imaterial em vibração”.

Os corpos que constituem a parte material da nossa condição humana, ao serem percebidos e relacionados a outros conteúdos mentais, exercem sem dúvida uma séria influência sobre o nosso campo mental, mas é claro que não possuem qualquer dose de responsabilidade na nossa existência, simplesmente porque nenhum corpo (seja ele fluídico ou físico) produz pensamentos e sentimentos, nem possui consciência do bem e do mal.

Os corpos, ou as coisas materiais, não fazem efeitos motivados no Universo, que são obra exclusiva da Força do Universo e suas parcelas-Força que já adquiriram essa competência: “um motivo [extremo sequencial antecedente], base do comportamento [extremo sequencial consequente], é um ‘antecedente’ que não age quantitativamente, mas qualitativamente. O motivo age [ou, predispõe-nos a fazer isto ou aquilo] pela sua significação [ou, pela sua relação mais ou menos forte com os nossos anseios, no presente atual]”. [8]

Assim sendo, podemos inferir que é recomendável que passemos a cultivar o hábito de nos vermos e sentirmos, a nós e aos outros, como seres imateriais autovibrantes, inerentes a tudo aquilo que manifestamos no nosso campo material associado (físico e fluídico).

4. O chamado “universo físico”, existiu sempre? – Infiro que não!

Admitindo o que nos ensina o livro Racionalismo Cristão, cap. 3, entendo que os mundos físicos não existiram sempre, se é verdade que a sua "pedra" essencial é o átomo: "o Princípio Inteligente [Força do Universo], AGINDO em obediência às leis evolutivas [por ele próprio idealizadas e estabelecidas], utiliza-se da Matéria no estado primário desta [num instante t do tempo sucessivo] e, com ela, forma estruturas...". Por conseguinte, nenhum mundo físico existia antes que a Força do Universo desse arranque ao processo de produção desse mundo.

Por outro lado, “a idealização de um mundo como o nosso corresponde às exigências da evolução.”

No livro Prática do Racionalismo Cristão lê-se que são as forças-lei evolutivas, emergentes da Força do Universo, que conduzem à perfeição e produzem desde o insignificante grão de areia, o pequenino inseto, o microscópico átomo e os grandes astros dispersos no infinito…”

5. As parcelas-Força involuídas, começam localizadas no campo comum de Involução, deslocalizando-se oportunamente para campos de Evolução, previamente organizados a propósito, pela Força do Universo, no seio da Matéria do Universo

“Essa partícula [ou parcela, da Força do Universo] inicia o processo evolutivo num estado de involução absoluta, fazendo estágio, por milhões e milhões de anos, nos reinos mais atrasados da natureza, até atingir o [reino] hominal.” [9]

"Temos até aqui [10] estudado a evolução da força [parcela-Força] pari-passu, com as metamorfoses da matéria; precedendo sempre, a análise das transformações da matéria, às transformações das forças [parcelas-Força], pelo que a muitos parecerá que a transição [evolutiva] da força [parcela-Força] é efeito da transformação da matéria.

(...) Só a necessidade da clareza da exposição, para a compreensão de fenômenos de ordem metafísica, já obriga a tratar do fato antes da pesquisa das causas [Força do Universo com as suas parcelas-Força] e do seu mecanismo; além de que essa é a marcha da análise." [10]

“À medida que a sua evolução[da individualidade encarnada] mais se acentua, atributos espirituais são revelados em forma de sentimentos, como o amor, a bondade, a compaixão, a consciência do dever e outros.” [11]

“Todos sabem que uma encarnação é curta trajetória se comparada à evolução eterna do espírito [que, quando parcela-Força involuída, iniciou a sua ascensão evolutiva no reino mineral].” [12]

6. Estar “presente em individualidade” não é o mesmo que estar “presente em vibração” ou, mesmo, estar “representado em imagem fluídica”

“As Forças Superiores sempre estão presentes [como?] nas casas racionalistas cristãs, …” [13]

“… as casas racionalistas cristãs podem estar situadas a qualquer distância uma da outra que tal fato, para o Astral Superior, não tem a menor importância, não havendo impedimento para que um espírito de luz compareça, numa e noutra, quase no mesmo instante.” [14]

O espírito é, por definição, uma individualidade imaterial dotada de livre-arbítrio, que autovibra eternamente e, portanto, é uma realidade em que não existe estática em nenhum sentido, podendo comparecer num dado sítio B, após retirada de outro sítio A, e subsequente volição rumo a B.

Saiba-se também que toda a parcela-Força capaz de domínio próprio está obrigada a educar as suas próprias vibrações, quer dizer, a esforçar-se por ajustá-las, em qualquer situação, às vibrações da Força do Universo, por intermédio de espíritos que tenham completado a etapa humana da sua evolução, agora envolvidos por ambientes fluídicos já diáfanos. “O caminho da espiritualidade é esse de atingir-se [ao aflorar lenta e gradualmente] a sincronização das vibrações dos seres com as [Vibrações] do Grande Foco." [15]

"Os Espíritos do Astral Superior não têm dificuldades em ajustar as suas Forças Pensantes a essas Vibrações do Poder Supremo quando fica o impossível reduzido a nada. Entretanto, essas Forças Pensantes são controladas pelo próprio Ente que as produz, de maneira a não alterar a marcha normal dos acontecimentos." [16]

“Como Presidente Astral do Racionalismo Cristão posso estar, e estou sempre em vibração, em todas as casas racionalistas cristãs.” [17] – Isto diz-me que “estar presente em individualidade” não é o mesmo que “estar presente em vibração, ou em conexão vibracional”.

É preciso, também, ter em atenção que a constatação, num determinado local (nomeadamente nas reuniões espiritualistas das casas racionalistas cristãs), da imagem fluídica de um espírito que foi nosso conhecido quando encarnado, não prova necessariamente que essa individualidade espiritual esteja ela própria presente, nesse local.

Assim sendo, devemos ultrapassar essa ideia falsa de que os Espíritos Superiores estão apenas nas suas altas dimensões espirituais e, bem assim, essa outra ideia falsa de que uma imagem fluídica por eles projectada prova que compareceram nesse local.

Conclusão

O Racionalismo Cristão recomenda aos seus estudiosos que não abdiquem de tirar as suas próprias conclusões daquilo que estudam com dedicação, em benefício próprio e dos semelhantes que tenham sensibilidade para as coisas que transcendem a passageira existência física. Para isso é indispensável que o espírito estudioso queira, honesta e humildemente, receber em seu interior a luz do esclarecimento proveniente das Forças Superiores.

É isso que buscamos, quando afirmamos com seriedade, nas nossas irradiações disciplinares, que “aqui estamos a irradiar pensamentos às Forças Superiores para que a luz [do esclarecimento] se faça em nosso espírito…”.

Referências

[1] Ervin Laszlo. A Mente Imortal, editado em Portugal por Sinais de Fogo, Lda, 2015, pag. 147
[2] Orientação de Antonio Cottas, para leitura e comentário na reunião de militantes de junho de 2012
[3] Luiz de Souza. A Morte Não Interrompe a Vida, 5ª edição, cap. Perspectivas Reais
[4] Racionalismo Cristão, 45ª edição, cap. 2
[5] Racionalismo Cristão, 45ª edição, cap. 3
[6] Luiz de Mattos. Vibrações da Inteligência Universal, cap. Amar a Natureza e cap. O Homem e as Leis a que Está Sujeito
[7] Orientação de Luiz de Mattos, para leitura e comentário na reunião de militantes de fevereiro de 2018
[8] F. J. J. Buytendljk. O Homem e o Animal (1958), cap. A Causa ou o Motivo
[9] Luiz de Souza. A Morte Não Interrompe A Vida, cap. O Indivíduo
[10] A. Pinheiro Guedes. Ciência Espírita, 7a. edição, pág. 107

[11] Luiz de Souza. A Morte Não Interrompe A Vida, cap. O Indivíduo
[12] Orientação de Roberto Dias Lopes, para leitura e comentário na reunião de militantes de maio de 2013
[13] Orientação de Luiz de Mattos, para leitura e comentário na reunião de militantes de fevereiro de 2014
[14] Prática do Racionalismo Cristão, 13ª edição, cap. 2
[15] Luiz de Souza. Ao Encontro de Uma Nova Era, 4ª edição, cap. O Amor
[16] Luiz de Souza. A Felicidade Existe, 6ª edição, cap. Irradiações
[17] Orientação de António Cottas, para leitura e comentário na reunião de militantes de novembro de 2012

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